5.31.2012

PAIS ANSIOSOS E FILHOS DESPREOCUPADOS

Em tempos modernos, a relação entre pais e filhos sofreu muitas mudanças. Crianças e adolescentes se viram desobrigados a copiar os mais velhos em troca de conceitos como busca da identidade, individualidade e de um espaço mais próprio. No entanto, apesar desta proposta se mostrar positiva e atraente, uma das consequências deste “avanço” parece estar na crescente despreocupação dos adolescentes com as próprias responsabilidades, deixando os pais cada vez mais ansiosos. Apesar das queixas dos pais quanto ao comportamento “relax” dos seus filhos, esta curiosa apatia social e desinteresse dos adolescentes, e pré-adolescentes, têm origem justamente dentro de casa. Um paradoxo, já que a maioria dos pais teve outro tipo de educação, mais severa, onde foram muito cobrados e exigidos. Estes pais relatam que no tempo deles não era assim, que não tinham escolhas e que era preciso “pegar cedo no batente”. Contudo, alguns destes pais, em função dos traumas que os marcaram, têm a preocupação de passar uma educação menos agressiva, porém firme, para os filhos. Aqui, neste caso, faço referência aos pais que analisaram a educação que receberam, ponderaram e buscaram equilíbrio entre as gerações. Já aqueles que foram ultra-reprimidos pelos seus pais e não souberam resolver a questão, pecam pelo excesso e dão tudo mastigado para os filhos, criando uma relação de extrema dependência. A receita básica para a formação de um indivíduo socialmente saudável é desenvolver nele, fundamentalmente, a noção de responsabilidade. Mas o que parece simples, não é fácil de ser executado. Nos últimos anos, com a presença maciça da mulher no mercado de trabalho, observamos mães divididas entre o prazer da realização profissional e a culpa por não estarem presentes, o tempo todo, na educação dos filhos. Para reduzir esta ansiedade muitas mães buscam suprir a sua ausência comprando tudo que os filhos pedem, estimulando o consumismo. Ou ainda, não cobram deles certos deveres fazendo, inclusive, por eles. Além disso, a falta de intervenção do pai contribui para a falta de limites do filho, repercutindo negativamente em sua formação. Há outros fatores também que merecem ser considerados. O excesso de metas que os pais submetem seus filhos, superlotando suas agendas, pode levá-los a ter um comportamento oposto: uma não reação como forma de protesto. É uma espécie de resistência às pressões dos pais. Ao contrário do que propaga ser adolescente hoje não é tão fácil como era décadas atrás, onde as regras e valores sociais eram bem definidos. A liberdade sexual, de expressão, de escolhas, e até de pais compreensivos e tolerantes demais, tem deixado os adolescentes perdidos. As consequências disto são jovens com pouca iniciativa, angustiados e estressados. Claro que não podemos generalizar, mas é preciso olhar mais atentamente para isto e para o tipo de relação que os pais têm estabelecido com seus filhos. Apesar das mudanças contemporâneas, o tradicional bom senso parece ser a melhor indicação para lidar com a prole apática ou desinteressada. Dar a eles responsabilidade e comprometimento fortalece a independência. Atribuir tarefas domésticas dão a eles noções de solidariedade e de trabalho em comunidade. Tudo isto é uma boa tática só acessível, porém, a pais menos ansiosos que, persistindo naquilo que determinam como valores educacionais, poderão descobrir filhos também menos descansados. Do contrário, eles continuarão sem sair de casa, navegando pela internet e pedindo pizza por telefone, demonstrando claramente que, se tudo vem até às suas mãos, ir à luta por quê?

5.21.2012

Nossa cultura valoriza cada um pela imagem de sucesso que a pessoa passa. A felicidade passou a contribuir para o status social. A cultura do contente: ser feliz virou obrigação. Uma armadilha de consumo , pois a pessoa passará a investir em coisas que lhe afirmaram essa imagem. (Contardo Calligaris)

5.07.2012

A MADRASTRA

Os contos de fada sempre descreveram o papel da madrasta como uma pessoa má e perversa. Todos conhecem, por exemplo, a história da Branca de Neve ou da Cinderela. Por conta disso há uma aversão social desta figura, vista como alguém incapaz de um ato de amor por uma criança pela qual não gerou. Diferente da mãe adotiva que, por este gesto, é reconhecida socialmente como uma pessoa generosa. Com o aumento significativo de divórcios seguidos de segundas uniões, tem se tornado frequente casos de filhos que residem, ou convivem, com o pai biológico e a madrasta. E se dão bem. Os conflitos existem como em qualquer núcleo familiar, mas não podemos considerar que são específicos apenas das relações madrastas e enteados. Mães biológicas também têm conflitos com seus filhos. No entanto é difícil uma sociedade ver com bons olhos a madrasta. Os enteados a veem como aquela que veio pra roubar o lugar da mãe além de impossibilitar a fantasia de reconciliação que todos os filhos têm dos pais. A visão deturpada que se tem das madrastas também as coloca numa confusão de sentimentos. Muitas vezes elas não sabem qual o limite na relação com seus enteados. Não sabem onde termina a linha divisória entre o que é permitido opinar na vida deles sem que pareça uma intrusa. Desejam também o reconhecimento e a aceitação da família do companheiro, buscando remover o estigma social de mulher má. É necessário que as pessoas se desfaçam do preconceito social que concebe a madrasta como um modelo negativo e ver que ela também é uma figura positiva na relação familiar. Podemos encontrar hoje inúmeros relatos de como estas mulheres respondem a cuidados especiais com seus enteados levando-os à escola, cozinhando ou aconselhando-os com maior objetividade nas dificuldades que eles apresentam. Quando após a separação o casal mantém um relacionamento respeitoso, é possível compreender a segunda união e ver a madrasta como aquela que olha com carinho os filhos quando estão com o pai. Diante dos diversos modelos familiares que temos atualmente no contexto social, repensar o papel dado à madrasta auxilia na construção de relações familiares mais saudáveis. As madrastas podem ser uma amiga adulta, uma espécie de “segunda-mãe”, capazes de criar laços afetivos com seus enteados ou até recuperar elos “perdidos” entre o pai e filho causados pelo fim do casamento.